OSCs sempre serão necessárias

OSCs sempre serão necessárias

“Se o governo fizesse a parte dele, não precisava das ONGs”.

DISCORDO!

Sempre fui participante, colaboradora, apoiadora, defensora e até fundadora de Organizações Não Governamentais

Na década de 90, por exemplo, vi na escala de externas que uma equipe da MTV ia fazer uma reportagem em Heliópolis. Era a deixa que eu precisava para conhecer a favela e ver o que eu poderia fazer por lá, um desejo que já me consumia! “Colei na banca” e  levei minha câmera fotográfica (uma Canon linda, será que funciona ainda?). 

Enquanto fazia um making of da matéria, um membro da UNAS, uma ONG bem forte por lá, me perguntou: “pra que são essas fotos”? “Para o que elas puderem servir”! Assim, a primeira possibilidade de colaborar que apareceu foi justamente fotografar a favela para espalhar para o mundo o que havia por lá, de belo para ser propagado como exemplo e estímulo, de feio para ser transformado. 

Propagar o belo e transformar o feio

Depois me tornei voluntária regular às quartas-feiras, fazendo atividades educativas com as crianças e pré-adolescentes que frequentavam um CCA (acho que na época chamava EGJ – ah, essas siglas…). Acabei tendo um horário na histórica Radio Heliópolis, onde tocava meus vinis de música brasileira que dificilmente teriam espaço nas rádios comerciais (Itamar Assumpção, Premeditando o Breque, Marco Antonio Araújo…). 

Em outra quebrada, Jardim Guarani, colaborei com o Instituto Sala 5. Dava aula de inglês uma vez por semana na salinha (número 5…) em cima de uma padaria. Também desenvolvia atividades como gravação de vídeo em que os meninos eram equipe técnica e atores (muitos anos depois, soube que um deles tinha montado um pequeno estúdio de produção audiovisual e quase morri de orgulho). Também contribuía com a revista Menisquência, criada por eles com apoio do Instituto Sou da Paz e do Laerte! (Hoje, a Laerte). 

Revista Menisquência
Imagens da revista Menisquência – Fonte: Flickr

Na MTV, inventei um jeito de ajudar várias organizações de uma vez com uma doação só. Existia um site chamado “clickárvore”, muito engenhoso. Você só precisava entrar no site, clicar no banner de um patrocinador e pronto! R$1 seria destinado por aquele patrocinador para o plantio de uma árvore (talvez minha memória esteja meio imprecisa, mas o mecanismo era basicamente esse). Você também podia ser um desses patrocinadores, fazendo uma doação e ganhando a exposição do seu banner. 

Eu e outros VJs (me lembro especialmente do Edgard Piccoli, que aderiu na hora) fizemos, então, o seguinte: a gente fazia uma doação coletiva, mas não aparecia. Em vez disso, indicava uma organização para aparecer no site e receber os “cliques”, expondo seu trabalho. 

Fala a verdade, boa ideia ou não era? 😉

 Problemas muito maiores

Na ESPN-Brasil, tínhamos um programa inteiro para falar de iniciativas voltadas para o esporte como ferramenta de inclusão. Cada projeto incrível… Velejar com crianças autistas, artes marciais em escolas da quebrada, atletismo para pessoas cegas… 

MAS a certa altura tudo isso que dava gosto de ver e de fazer se transformou em desgosto, desânimo, desalento, depressão. Os problemas eram muito, mas muito maiores do que minhas aulas de inglês eram capazes de resolver, ou as reportagens na TV. Foi quando resolvi ir atrás de mais poder, e vim trabalhar na área pública – primeiro no Legislativo, hoje no Executivo. Queria ganhar mais escala, atingir mais gente mais profundamente. 

Hoje trabalho em uma Secretaria, a de Direitos Humanos e Cidadania, que atua muito (quase completamente!) em parceria com as Organizações da Sociedade Civil, por meio de vários mecanismos, em programas e projetos muito diferentes. E apesar daquela frustração com o alcance às vezes pequeno de uma ONG, e da certeza de que a área pública tem mais responsabilidade e poderes, compreendo que é esse trabalho em conjunto que dá resultados melhores para a sociedade!!

O governo tem a responsabilidade com o TODO. Precisa atender milhares, milhões de pessoas. E a OSC (denominação utilizada oficialmente em vez de ONG, na próxima oportunidade eu explico) pode, de uma maneira que o governo não consegue, ser singularizada, especializada, territorializada. Sem falar na sua possibilidade de inventar, inovar, testar, mudar, adaptar, mobilizar muito maior do que um governo é capaz de ter, por mil razões. 

Então, ainda que houvesse governos perfeitos, nada substitui o trabalho solidário, amoroso – e cada vez mais profissional, por que não? – de Organizações da Sociedade Civil. Elas (vocês? rs) sempre terão um papel na sociedade, e no dia em que eu não estiver mais aqui (administração pública), estarei com certeza com alguma delas. Ou várias. 

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